* Eduardo Antunovic
No trimestre final de 2008, a crise econômica se sobrepôs à temática ambiental na escala de prioridades das empresas e dos meios de comunicação. Sobreviver à redução do crédito e à estagnação que tomam de assalto os países ricos impõe um debate urgente e necessário. Nem por isso, entretanto, podemos deixar em segundo plano a busca por um caminho que permita compatibilizar geração de riquezas com equilíbrio ambiental.
Escrevo este artigo no último dia da 14ª Conferência do Clima das Nações Unidas, realizada em Póznan, Polônia. Acompanho as notícias do Brasil e descubro que o nosso foi apenas um dentre 189 países participantes. Durante dez dias, especialistas e representantes governamentais – o nosso era Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente – discutiram o combate ao desmatamento, a permuta de tecnologia e o financiamento de ações ambientalmente corretas. O objetivo é formatar um acordo capaz de substituir o Protocolo de Quioto, que expira em 2012. Não é fácil conciliar interesses divergentes, mas a próxima rodada de discussões só acontecerá dentro de um ano, na Dinamarca.
Firmado em 1997, o Protocolo de Quioto determina que as nações industrializadas devem reduzir, até 2012, cerca de 5% das emissões de gases de efeito-estufa em relação aos níveis registrados em 1990. Países emergentes como o Brasil estão desobrigados de cumprir metas e podem beneficiar-se com a comercialização de créditos de carbono. Assim, as empresas brasileiras que reduzirem suas emissões de CO2 – pela substituição da matriz energética fóssil por uma fonte limpa e renovável, por exemplo – podem submeter seus projetos ao Ministério da Ciência e Tecnologia e pleitear a aquisição de créditos de carbono junto a um conselho internacional de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Os resultados de um projeto dependem de auditoria externa credenciada para se tornarem válidos e os créditos dele decorrentes podem ser negociados em bolsas de carbono, em modelo similar ao adotado pelas bolsas de valores. No ano de 2007, o mercado de carbono movimentou 30 bilhões de reais ao redor do mundo. A possibilidade de comercializar créditos de carbono não é o único estímulo para as empresas brasileiras investirem em MDL. No Brasil e no mundo, os consumidores estão cada vez mais atentos à ética ambiental de seus fornecedores. A tendência é que as organizações não-alinhadas às normas ambientais sejam “engolidas” pelo mercado.
O Plano Nacional Sobre Mudança do Clima (PNMC–Brasil), disponibilizado pelo Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima do Governo Federal no início de dezembro, contém um inventário das emissões de gases de efeito-estufa, sobretudo o dióxido de carbono, o óxido nitroso, o metano e os hidrocarbonetos. Elaborado especialmente para a apresentação brasileira na Conferência de Póznan, o PNMC revela, dentre outros dados, que as indústrias são responsáveis por apenas 9% do total de emissões de CO2, por 1% das relativas ao gás metano e 4% de óxido nitroso.
Porém, mesmo sem ser o “vilão do meio ambiente” de outrora, quando estava associado às fumaças escuras das chaminés e à contaminação dos rios, o setor manufatureiro é fortemente pressionado pela opinião pública e os órgãos fiscalizadores. Ao mesmo tempo, as fábricas estão cada vez mais empenhadas em minimizar os impactos ambientais de suas atividades.
Além disso, o respeito ao meio ambiente está intrinsecamente ligado à responsabilidade social. Cada vez mais distante da obsoleta prática filantropia convencional, esse conceito tornou-se sinônimo de gestão ética e transparente, com foco no desenvolvimento sustentável, na preservação dos recursos naturais e culturais para as gerações futuras, no respeito à diversidade e na mitigação das desigualdades.
Atender às necessidades desse novo mundo não é tarefa simples. Para o executivo, significa estar atento aos novos anseios da sociedade e possuir visão estratégica de longo prazo. Somente assim ele será capaz de converter as exigências em oportunidades e de contribuir efetivamente para a criação de uma nova identidade empresarial, em que a sustentabilidade tenha ligação intrínseca com as áreas estratégica, operacional, financeira e comercial.
* Eduardo Antunovic é diretor-geral da CTPartners na América Latina.
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