Carlos Augusto Pires*
Há algum tempo, percebemos que o tema “responsabilidade” tem adquirido dimensão e importância cada vez maiores, relacionando-se a áreas como a social, ambiental, moral, ética... Hoje, tornou-se fator inerente e está na pauta de discussão de qualquer atividade desenvolvida por indivíduos, grupos, instituições, entidades, governos ou corporações. E é justamente a amplitude com que a “responsabilidade” tem sido assumida pelos diferentes agentes da sociedade que vem atingindo patamares inimagináveis, quando a comparamos com referências de um passado não muito distante.
Um exemplo da evolução dos padrões de responsabilidade – seja por exigência dos consumidores, de governos, de instituições, de princípios sociais, ou, até, por iniciativa das empresas – pode ser percebido no conteúdo de três resoluções firmadas durante o “The Global Summit 2011” (Encontro Global 2011), evento realizado este ano, em Barcelona (Espanha), pelo “The Consumer Goods Forum” (Fórum dos Bens de Consumo), rede mundial de líderes do varejo, indústria de alimentos e bebidas, bens de consumo e prestadores de serviços dedicada a iniciativas relacionadas aos seguintes pilares estratégicos: tendências emergentes; sustentabilidade; saúde e segurança; excelência operacional; troca de conhecimentos e desenvolvimento de pessoas.
As três resoluções aprovadas, debatidas por um grupo de líderes empresariais eespecialistas e que serão sugeridas como princípios às corporações de todo o mundo, estabelecem os seguintes objetivos: garantir o acesso e a disponibilidade de produtos e serviços que estimulem entre as pessoas a adoção de dietas e estilos de vida mais saudáveis; oferecer informações transparentes que auxiliem o consumidor a tomar decisões embasadas; e desenvolver programas educacionais para ampliar a consciência e estimular a adoção de estilos de vida mais saudáveis.
É interessante perceber a preocupação dos líderes empresariais em contribuir para a solução de problemas que, em um primeiro momento, poderiam ser qualificados como de saúde pública. Mas, afinal, as empresas têm de ser responsáveis a ponto de estimular hábitos mais saudáveis, mesmo que isso possa aparentemente afetarseus próprios interesses comerciais? A resposta é um definitivo sim.
Mesmo diante do apelo do livre consumo, o mercado (formado em sua base justamente por consumidores) exige que as empresas ofereçam produtos e serviços saudáveis às pessoas (e até, eventualmente, aos animais), atuem com responsabilidade e demonstrem, de fato, suas preocupações e atitudes nesses sentidos. Para chegar a isso, é imprescindível desenvolver uma comunicação transparente, que agregue informações esclarecedoras para orientar as pessoas no sentido de tomarem as decisões mais oportunas em cada caso. Também é essencial contar com o apoio de dados, informações, pesquisas e apurações científicas que deem suporte adequado à confirmação de que tais produtos e serviços oferecidos são realmente saudáveis como se indica.
Cuidar para que o consumidor saiba o que é bom para si ou para seus familiares e semelhantes passou a ser uma obrigação das empresas. Ser responsável significa atuar pensando em todos os impactos que as corporações podem provocar, seja no que diz respeito às pessoas, ao meio ambiente ou à sociedade como um todo. É tarefa, portanto, das organizações exercitar de modo transparente e inteligente a adequação de produtos e serviços, seus processos e suas relações com seuspúblicos. Nesse sentido, é preciso investir forte no uso da criatividade, em pesquisa e inovação. A equação é simples: oferecer produtos e serviços confiáveis, somado a uma atuação responsável dedicada a todos as entidades que dão forma à sociedade, resulta em melhor percepção do que as corporações têm a oferecer e de sua própria existência, o que redunda, em geral, em resultados melhores e sustentados.
Além disso, países como o Brasil, em que os recursos naturais disponíveis têm sido verdadeiros garotos-propaganda do avanço da atividade econômica, precisam ter atenção redobrada em relação à forma como suas empresas, instituições, entidades e governos tratam e lidam com o meio ambiente, especialmente no que diz respeito à exploração e à gestão desses recursos, visando sempre o tão desejado desenvolvimento sustentado.
Ao final, percebemos que a noção de responsabilidade sobre o bem-estar dos indivíduos, anteriormente considerada uma incumbência do Estado, está hoje sendo dividida por toda a sociedade, inclusive pelas empresas que a compõem. Essa não é apenas uma tendência, mas sim um caminho que vem se consolidando e que exigirá dos empreendedores atenção e determinação para que sigam no rumo acertado e garantam a sustentabilidade do próprio negócio e dos sistemas que o envolvem.
*Carlos Augusto Pires é sócio responsável pelas áreas de Consumer Markets - Brasil e Audit-SP da KPMG no Brasil.
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