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ASSOBIO, REDES SOCIAIS E MUDANÇA



por
Francisco Bittencourt*

INTRODUÇÃO

Há alguns dias, sentado no banco de um shopping, esperando por minha mulher, percebi um homem, cuja idade estaria em torno dos 80 anos. Enquanto ele andava mexia em uma pasta com um grande número de documentos.

O que me chamou atenção neste cidadão foi o fato de que ele estava assobiando.

Imediatamente recorri à minha memória para verificar o quanto o assobio fez parte de hábitos no passado. Havia até um músico que se destacava como assobiador: O Garoto Assobiador.

A partir deste momento me propus a observar quantas pessoas eu encontraria assobiando, e, como já esperava reencontrei por duas ou três vezes o meu personagem (ele não sabia disto), que permanecia assobiando e era o único naquele cenário.

Confesso que, de vez em quando me pego assobiando, é um hábito antigo, quando estou sozinho, andando na rua, trabalhando.

Todo este intróito tem como finalidade questionar: O assobio é uma prática em desuso? É coisa de velho?

AS NOVAS GERAÇÕES E O ASSOBIO
Quando se abordam as novas tecnologias, identificam-se dois grandes grupos: Os nativos digitais e os imigrantes digitais.

Os nativos já vem com toda a predisposição do berço (até parece que geneticamente já vem inoculados), os imigrantes vem chegando e se aproximando das disponibilidades tecnológicas.

O acesso à tecnologia transita entre a necessidade de atualização e a exigência do cenário.

Há cerca de 15 anos atrás, ministrando a disciplina Gestão de Recursos Humanos na UFRJ, fui consultado por dois alunos, que pediam permissão para trocar com seus colegas de turma os seus e mails. Disse a eles que se sentissem livres, mas imaginava que haveria poucas trocas (se não me falha a memória, na turma de 35 alunos não havia mais do que cinco “portadores” da novidade).

Hoje não só o email, mas toda a gama de opções que a tecnologia da informação gerou se coloca à frente dos profissionais, para sua qualificação e inserção no mundo contemporâneo.

Não dispor destes recursos (ou seriam instrumentos) torna o profissional desconectado de uma realidade que compromete seu desempenho (até no terreno pessoal).

Na hierarquia da informação, o dado só faz sentido se for decodificado. A partir de sua decodificação o dado se transforma em informação, que selecionada, passa a significar conhecimento. Este, quando utilizado em prol dos resultados a alcançar, consolida o saber.

Esta é a linha da tecnologia. Na realidade atual é preciso saber assobiar, tirar o som correto e não simplesmente emitir um sopro silencioso. É fato concreto que se faz necessário conhecer a tecnologia e adotá-la como um instrumento (agora sim) do dia a dia (pessoal e profissional).

O conjunto de opções que se mostra ao profissional hoje inclui não só a tecnologia representada pelo chamado capital estrutural (máquinas, equipamentos, softwares e outros que tais), mas também, e principalmente, a teia representada pelas redes sociais (que a cada dia trazem mais novidades, obsoletando outras atropeladas pelas novidades).

É diante deste arsenal de opções que se torna importante analisar a forma como as organizações se propõem a gerenciar esta mudança.

AS EMPRESAS E A POSSIBILIDADE DE ASSOBIAR
As possibilidades que são reais hoje em relação às redes sociais: ning, orkut, via6, facebook, twiter, formspring, youtube, forumyahoo, podcast, tonomundo, blog, reddolac, cada uma delas tem suas características, seus objetivos, suas peculiaridades.

As formas como se apresentam estas opções dão ao profissional uma gama de possibilidades de interação e integração com seu mundo pessoal e profissional.

Constata-se que as redes proporcionam:

1 - A busca de consensos e a convivência no cenário das diversidades, coordenando autonomias;

2 - A conectividade, que reforça o relacionamento sem que a autonomia venha a ser comprometida;

3 - Gestão compartilhada da rede e de suas atividades, por meio da criação de formas espontâneas de divisão de trabalho e responsabilidades. [1]
A adoção das redes como instrumento de ação dos gestores, líderes ou profissionais, os quais, por sua função exercem uma liderança não formal, mas capaz de influenciar comportamentos e atitudes, demonstra uma evolução na maneira como transmitem seu conhecimento.

A utilização destes instrumentos, portanto é agilizadora do conhecimento, o que gera, em relação aos gestores, líderes, a necessidade do permanente aprimoramento no uso e manipulação destes recursos da contemporaneidade.

Determinadas organizações, em nome da segurança e da disciplina optam por bloquear, de forma radical o acesso de seus colaboradores às redes sociais, na medida em que afirmam ser oneroso ou perigoso controlar tais acessos.

Há inúmeras justificativas apresentadas, para validar este tipo de decisão. O que fica evidente é que, ao divulgar tais medidas a empresa precisa justificar o que fez. Se fosse um procedimento objetivo, cuja submissão à falta de lógica não ficasse tão evidente, não haveria necessidade da exposição. Os fatos falariam por si.

CONCLUSÃO
A adoção dos instrumentos da contemporaneidade sejam eles telefones celulares, smartphones, terminais individuais de acesso tecnológico (em todas as suas configurações) se transforma numa ação cotidiana, tão simples como ... assobiar.

Conhecer as opções, identificar as disponibilidades, verificar o que pode agregar valor ao seu trabalho e à sua vida pessoal se transforma numa obrigação espontânea (comprometimento).

A tentativa de sobrevivência no cenário de competitividade sem a adoção dos instrumentos pode ser marcada pela utopia, pois não atende aos requisitos mínimos de sobrevivência nesta “selva tecnológica”.

Os cuidados a serem tomados com a entrada neste novo cenário incluem:

1 - Falta de compromisso com o envolvimento da participação individual e coletiva;

2 - Excesso de individualismo e de espírito de competição entre pessoas e instituições;

3 - Fragmentação e dissociação dos diversos saberes e áreas de conhecimento;

4 - Confrontos de poder e conflitos entre pessoas e instituições dentro da rede, que não conseguem superar suas diferenças de opinião.[2]
Assobiar é um ato solitário. Atuar em redes pressupõe interação e integração com a comunidade produtiva. Sociabilidade e Solidariedade[3] são ferramentas que Garteh e Jones trouxeram e que demonstram a necessidade fundamental da sociedade contemporânea.

A sociabilidade pressupõe a comunicação para manutenção das relações interpessoais produtivas e solidariedade a capacidade de trabalhar em equipe.

John Kotter ao estabelecer as coalizões poderosas, e ele as indicou em uma era anterior ao advento das redes sociais, deixou claro que:

O ambiente corporativo moderno exige mais mudanças em grande escala através de novas estratégias, reengenharia, reestruturação, fusões, aquisições, downsizing, desenvolvimento de novos produtos ou mercados, as decisões tomadas dentro da empresa fundamentam-se em questões maiores, mais complexas e com maior teor emocional, ocorrem com mais rapidez, ocorrem em um ambiente de mais incertezas e exigem mais sacrifícios por parte dos que as implementam, e um novo processo decisório é necessário porque ninguém sozinho possui as informações apropriadas para tomar todas as decisões importantes nem o tempo e a credibilidade necessários para convencer um grande número de pessoas a implementarem essas decisões. Esse novo processo deve ser conduzido por uma coalizão poderosa que possa agir como uma equipe. ( p. 56)[4]
Os nossos assobiadores poderão continuar praticando sem problemas, mas provavelmente deverão procurar fazer com que seu assobio interaja com outras manifestações de comunicação.

Como atividade de lazer individual não há problemas, mas o cenário contemporâneo, altamente competitivo, exige uma efetiva de troca de informações e de conhecimento.


[1] TORRES, PATRICIA L. Aprendizagem em Redes, Palestra proferida em 17.06.2011, Curitiba, PR.
[2] TORRES, PATRICIA L. Aprendizagem em Redes, Palestra proferida em 17.06.2011, Curitiba, PR.
[3] GOFFEE, Rob e GARETH Jones. Quem disse que você  pode liderar pessoas? RJ: Campus Elsevier, 2006.
[4] KOTTER, John.  Liderar mudança.  Rio de Janeiro: Campus, 1999.

*Francisco Bittencourt é Consultor Sênior do Instituto MVC - www.institutomvc.com.br

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