Escreva Pensando nele e não em Você
por
José Paulo Moreira de Oliveira*
Alguns pontos a considerar:
- O crescimento avassalador da informática modificou radicalmente os conceitos de tempo, espaço, sigilo e confidencialidade.
- A escrita passa por profundas transformações, que exigem do redator o desenvolvimento de novas habilidades, resultantes das exigências de um público mais amplo, altamente diversificado e cada vez mais exigente.
- Todos se ressentem da absoluta falta de tempo. Não há mais espaço para leitura de tratados intrincados e volumosos.
- Seus escritos só serão reconhecidos e valorizados, quando o leitor entender a intrincada relação custo/benefício. O que o leitor vai ganhar ao investir na leitura de seu texto?
- Profundidade, pertinência, substância e amplo domínio do assunto são virtudes que não saíram de moda. O problema reside na forma como esses conceitos serão transmitidos ao leitor.
Para que sua produção textual consiga o merecido retorno, é fundamental que você tenha o mais amplo conhecimento do público-alvo que deseja atingir.
Para tanto, tenha sempre em mente as seguintes questões:
Para tanto, tenha sempre em mente as seguintes questões:
- Seus leitores em potencial são técnicos ou leigos no assunto?
- O trabalho a ser produzido é de circulação interna? Sua comunicação será dirigida a uma categoria profissional específica ou você pretende atingir amplos e diversificados setores da sociedade?
- Qual o grau de especificidade a ser imprimido ao trabalho?
- A linguagem utilizada dá margem a crer que o texto terá boas chances de ser lido e compreendido por alguém que não tenha participado, direta ou indiretamente, de sua elaboração?
Mantenha o foco no Leitor
Se o leitor não é um especialista, a informação breve, clara e expressa em linguagem acessível será mais do que suficiente. Para o público em geral, interessa saber que um termômetro é “instrumento destinado a medir a temperatura dos corpos” (Michaelis, 1998). Inútil e desnecessário será explicar seu mecanismo de funcionamento ou ainda falar das experiências de Fahrenheit, Six, Celsius, Rutherford ou Geissler com o calor.
Se o leitor é um especialista, deve-se privilegiar a informação que vá ao encontro das necessidades informacionais desse público específico. Para um epidemiologista, é importante saber que seres humanos podem contrair o antraz em contato com a terra —, principalmente em contato com animais, em cujo pelo, cabelo e presas o microrganismo pode sobreviver anos a fio. E que, até invadir os pulmões, o risco de contágio é infinitamente menor.
Para especialistas em Defesa, é importante saber que os esporos do antraz podem ser lançados por artefatos de artilharia a centenas de quilômetros e que a bactéria, por ser transmissível pelo ar, pode tornar-se arma poderosa em uma eventual guerra biológica.
Em uma revista dirigida a médicos, matérias relacionadas a novos medicamentos descobertos para o tratamento da aids ou a novas técnicas cirúrgicas para implante de órgãos serão naturalmente apreciadas. Explicar os cuidados que se devem tomar para não contrair o vírus ou descrever os procedimentos legais necessários para fazer uma doação são informações redundantes para esse tipo de leitor – embora sejam da maior relevância para o grande público.
Fica fácil observar como a caracterização do público-alvo é importante para a seleção das informações. Sem esse recurso, estaremos certamente cansando o leitor com pormenores dispensáveis, que só vão desviá-lo do caminho a ser percorrido.
E por falar em caminho, cuidado. Nossa insegurança pode pôr tudo a perder no momento em que competência profissional e hierarquia social aparecem para nublar decisões, principalmente quando se trata de fazer chegar informações técnicas a um leigo.
Se o leitor é um especialista, deve-se privilegiar a informação que vá ao encontro das necessidades informacionais desse público específico. Para um epidemiologista, é importante saber que seres humanos podem contrair o antraz em contato com a terra —, principalmente em contato com animais, em cujo pelo, cabelo e presas o microrganismo pode sobreviver anos a fio. E que, até invadir os pulmões, o risco de contágio é infinitamente menor.
Para especialistas em Defesa, é importante saber que os esporos do antraz podem ser lançados por artefatos de artilharia a centenas de quilômetros e que a bactéria, por ser transmissível pelo ar, pode tornar-se arma poderosa em uma eventual guerra biológica.
Em uma revista dirigida a médicos, matérias relacionadas a novos medicamentos descobertos para o tratamento da aids ou a novas técnicas cirúrgicas para implante de órgãos serão naturalmente apreciadas. Explicar os cuidados que se devem tomar para não contrair o vírus ou descrever os procedimentos legais necessários para fazer uma doação são informações redundantes para esse tipo de leitor – embora sejam da maior relevância para o grande público.
Fica fácil observar como a caracterização do público-alvo é importante para a seleção das informações. Sem esse recurso, estaremos certamente cansando o leitor com pormenores dispensáveis, que só vão desviá-lo do caminho a ser percorrido.
E por falar em caminho, cuidado. Nossa insegurança pode pôr tudo a perder no momento em que competência profissional e hierarquia social aparecem para nublar decisões, principalmente quando se trata de fazer chegar informações técnicas a um leigo.
Não complique
Doutor João preparou uma palestra sobre doenças sexualmente transmissíveis e adaptou o conteúdo técnico às necessidades de seu target: vigilantes e seguranças de uma empresa. Embora o roteiro elaborado esteja perfeitamente adequado ao público, Doutor João, sentindo-se inseguro, decide fazer pequenos “retoques” no script, preocupado que está em não ser parecer tão simples.
Primeiramente, nosso palestrante substitui use por utilize e fazer por fase de implementação. Nessa linha de raciocínio, melhor tratamento vira profilaxia recomendada e remédios se transformam em recursos terapêutico-farmacológicos disponibilizados ao usuário.
Na verdade, o que Doutor X teme é perder o respeito e a credibilidade da plateia apenas por cometer o “pecado” de ser simples e objetivo. A preocupação acadêmica com sua imagem profissional de médico irá falar mais alto e fatalmente levará nosso palestrante a reescrever parágrafos inteiros, nos quais muito jargão técnico será inserido.
Caso insista em manter essa postura, a reação amorfa e indiferente do público será inevitável. Assim, se o resultado obtido ficar aquém de suas expectativas — e as pessoas se sentirem desestimuladas — o médico não deve atribuir o fracasso da palestra ao baixo nível de escolaridade dos vigilantes e seguranças. Afinal, Doutor João conhecia muito bem as pessoas a quem deveria atingir.
Primeiramente, nosso palestrante substitui use por utilize e fazer por fase de implementação. Nessa linha de raciocínio, melhor tratamento vira profilaxia recomendada e remédios se transformam em recursos terapêutico-farmacológicos disponibilizados ao usuário.
Na verdade, o que Doutor X teme é perder o respeito e a credibilidade da plateia apenas por cometer o “pecado” de ser simples e objetivo. A preocupação acadêmica com sua imagem profissional de médico irá falar mais alto e fatalmente levará nosso palestrante a reescrever parágrafos inteiros, nos quais muito jargão técnico será inserido.
Caso insista em manter essa postura, a reação amorfa e indiferente do público será inevitável. Assim, se o resultado obtido ficar aquém de suas expectativas — e as pessoas se sentirem desestimuladas — o médico não deve atribuir o fracasso da palestra ao baixo nível de escolaridade dos vigilantes e seguranças. Afinal, Doutor João conhecia muito bem as pessoas a quem deveria atingir.
*José Paulo Moreira de Oliveira é Consultor Parceiro do Instituto MVC - www.institutomvc.com.br
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