* Por Celso Amâncio
Pesquisa encomendada pela Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas e pelo SPC Brasil, divulgada no início de
setembro, mostra que de cada dez consumidores inadimplentes, oito pertencem às
classes C e D, que foram assimilados pelo mercado de consumo no Brasil, nos
últimos anos.
A pesquisa mostrou ainda que de cada cem
consumidores inadimplentes, 45 afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas
nos próximos 90 dias. Alegam que os valores estão muito além das suas posses, já
que o total das dívidas, apuradas pelo levantamento, equivale a duas ou três
vezes a renda da família.
O que fazer?
Não dá mais tempo para reeducar
financeiramente os atuais consumidores. As dívidas estão lá. E os juros estão
correndo de maneira acelerada, especialmente nas faturas não pagas do Cartão de
Crédito.
É impensável, também, restringir ainda
mais as compras por crédito, com o risco de acelerar, ainda mais, os dados
sombrios da economia que começam a aparecer aqui e ali, com queda nas
contratações, com indicadores de inflação acima da meta, com setores da
população restringindo, por iniciativa própria, o consumo.
Acreditamos que é hora de voltar para o
básico e reestabelecer o diálogo e as renegociações entre lojistas, redes de
lojas, financeiras e os clientes (inadimplentes ou não).
O grande problema no resgate do
relacionamento com a clientela é que os profissionais que aprovaram o crediário
que hoje se confirma inadimplente, mais os responsáveis pela venda (lojistas,
atendentes, etc) perderam com o tempo o contato humano com a freguesia, no
momento em que acontece uma “metamorfose” continuada dessa clientela.
Restabelecer o diálogo requer uma mudança
de postura dos gestores das grandes redes, em combinação com as financeiras e
operadoras de cartões de crédito.
O diálogo entre as partes (consumidores e
lojistas) requer muito mais que boas intenções. Exige treinamento imediato,
mudança de postura e coragem para renegociar relacionamentos e o tratamento com
os clientes, que continuarão essenciais para a sobrevivência do comércio e para
a manutenção do ciclo virtuoso da economia.
Senão
continuará a prevalecer o “diálogo de surdos” com os resultados perversos para
todos, com alta da inadimplência e que ameaça o desempenho financeiro de lojas,
lojistas e grandes redes nacionais.
* Celso Amâncio, diretor da Agência Consumidor
Popular -- é especialista em concessão de crédito para o consumidor
popular -- Foi diretor de crédito da Casas Bahia, de 1976 a 2005, durante a
expansão da rede de 13 lojas para 500 lojas; 90% da expansão da rede foi
garantida, nesse período, com a concessão do crédito e pela fiança emocional,
desenvolvida por Celso Amâncio; desenvolveu a metodologia com a garantia da
inadimplência sustentável; sua experiência como diretor de crédito da Casas
Bahia foi aproveitada negociando a aprovação do Banco Carrefour pelo Banco
Central do Brasil. No Banco Carrefour acumulou a presidência e o cargo C&O
dos serviços financeiros no Brasil.
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